Sonhos, balas e suspiros (tarlei melo)
Quando eu era criança, sempre que eu ia pedir suspiros, aquele doce de boteco, feito de clara de ovo, o balconista vinha com a mesma piadinha: dava uma suspirada, dizia “pronto, taí!”, e caia na gargalhada. Aquilo era uma brincadeira muito irritante. Mas hoje me lembrei dela.
Fui à padaria, e depois de pedir os habituais pães, vendo aqueles doces de boteco expostos na vitrine, decidi-me por levar dois daqueles suspiros. Doce de boteco, quando a gente compra em padaria, custa sempre um pouco mais caro. Então, paguei por aquele doce de quinze centavos, vinte e cinco.
Ela pegou os oito pães que eu pedira, se virou para mim e perguntou Mais alguma coisa? Eu olhei para ela e pedi, articulando bem as palavras Quero dois suspiros. Ela abriu a porta do balcão, perguntou de quais cores eu preferia, retirou os suspiros e os enfiou dentro de uma sacolinha. Nenhuma piadinha, nenhuma gracinha, apenas obtive dois suspiros, um branco e outro amarelo, dentro de uma sacolinha.
Quando eu era criança, sempre que eu ia pedir suspiros, aquele doce de boteco, feito de clara de ovo, o balconista vinha com a mesma piadinha: dava uma suspirada, dizia “pronto, taí!”, e caia na gargalhada. Aquilo era uma brincadeira muito irritante. Mas hoje me lembrei dela.
Fui à padaria, e depois de pedir os habituais pães, vendo aqueles doces de boteco expostos na vitrine, decidi-me por levar dois daqueles suspiros. Doce de boteco, quando a gente compra em padaria, custa sempre um pouco mais caro. Então, paguei por aquele doce de quinze centavos, vinte e cinco.
Ela pegou os oito pães que eu pedira, se virou para mim e perguntou Mais alguma coisa? Eu olhei para ela e pedi, articulando bem as palavras Quero dois suspiros. Ela abriu a porta do balcão, perguntou de quais cores eu preferia, retirou os suspiros e os enfiou dentro de uma sacolinha. Nenhuma piadinha, nenhuma gracinha, apenas obtive dois suspiros, um branco e outro amarelo, dentro de uma sacolinha.
Lembrei-me das piadinhas que tanto me irritavam e pensei, com alguma tristeza, que talvez fosse bom ouvir aquela balconista, em gracejo, me entregar dois de seus suspiros no lugar dos doces que eu pedi; depois ela sorriria e guardaria os doces no pacote, sem se preocupar com as cores; satisfeita apenas com a sua gracinha. Seria bem melhor esquecer do mundo e saborear junto com os doces, o suspiro da balconista. Seria bem melhor que comer um suspiro amarelo o outro branco, pensando em suas cores.